Tóquio, dezembro de 2018. Meus 1,70m de altura com peso compatível, cabelos loiros e uma face incontestavelmente ocidental, já despertavam olhares de estranhamento por si só.
Mas nada como chorar numa estação de metrô tão grande quanto uma cidade, na presença de milhares (talvez milhões) de cidadãos japoneses (em sua presumida maioria), para virar o verdadeiro centro das atenções.
Eu não havia previsto isso; na verdade, por muitos meses, eu havia cuidadosamente evitado qualquer tipo de descontrole emocional, relativamente bem sucedida. Ninguém precisa ver o meu lixo despejado por aí, eu dizia.
Eu continuo concordando com essa frase, por sinal.
Já contei de diferentes formas, como em 2018, tive o diagnóstico de depressão em novembro, mas já notava sintomas no mínimo desde setembro daquele ano. Foi o ano em que tirei férias em 3 ocasiões, e mesmo assim, não terminava nunca o cansaço.
(Clique aqui para ler o “resumo” de 2 anos após a alta do psiquiatra)
Naquele dezembro de 2018, além do frio cortante (pelo menos para mim, que abaixo dos 16ºC já estou em sofrimento), chovia muito durante os dias passados lá. Eu passava boa parte do meu tempo escondida em galerias, lojas, lugares com calefação.
Foi daquela viagem em diante, que muitas coisas mudaram, principalmente dentro de mim. A começar pela medicação, que não estava fazendo efeito. Mas não foi só isso, não mesmo.
Naqueles anos mais complicados, eu tomei uma decisão meio confusa, de evitar situações que engatilhassem mais mal-estar do que eu conseguiria suportar. Algo como tentar evitar o sofrimento.
Fracassei em evitar o sofrimento? Lógico que sim. Mas passei a evitar situações francamente hostis ao meu estado mental, e isso certamente incluía clima frio, chuvoso e invernos fora do hemisfério sul.
Eventualmente, eu melhorei muito, muito mesmo. Mas continuei com esse “ranço” de não poder passar frio, ou encontrar climas desanimadores (pra mim), com pouca luz solar.
E aí, impactada pela onda de calor absolutamente desumana que assolou Santa Catarina nas últimas semanas, eu, que sou exatamente aquela pessoa que todo mundo discorda e detesta, quando elogia o verão e o calor, decretei que até para os meus padrões, estava demais.
Senti algo que não lembro de ter sentido nunca: uma pequena e diminuta saudade de um dia frio.
E quando, na Quarta-Feira de Cinzas, amanhecemos em civilizados 23ºC (que foi a máxima), com uma chuva intermitente, porém de pingos grossos o suficiente para encharcar logo o chão, senti reverberar em mim o alívio coletivo desse dia.
Calcei meias de algodão, meus tênis brancos de cano curto e a única calça jeans que tenho no armário saiu, depois de meses guardada. Isso me deixou feliz e causou um certo reconhecimento.
Estruturas internas enrijecidas estalaram, mas não racharam. Eu posso suportar o frio e a chuva, afinal de contas. Mais uma demão, nas muitas camadas de cura, estava aplicada.
O que isso muda na minha vida cotidiana? Pouco do ponto de vista dos hábitos, e até das minhas preferências. Continuo sendo aquela pessoa que a maioria discorda, e prefiro o calor do verão.
Ser suscetível ao clima, à luminosidade e às temperaturas externas é comum. Todos nós temos as nossas preferências, ainda que nem todos sejam tão intensos nos desconfortos.
Do ponto de vista de ayurveda, minha constituição predominantemente vata se agrava em climas frios. A depressão, muito a grosso modo, é um agravamento de kapha, frio e úmido.
Tudo o que fosse frio, úmido, de alguma forma obscuro, me afetaria internamente, o que nas CNTP’s (olar Ensino Médio) seriam desconfortos contornáveis. Com um corpo e mente adoecidos, muito mais difícil.
Ainda que eu possa controlar onde vou nas férias (e com um grande esforço, onde moro o ano inteiro), faz muito mais sentido buscar fortalecer internamente meu corpo e estado mental para ficar bem onde estiver.
Termino esse texto convidando você a refletir sobre os fatores externos que mais te afetam, para que você possa atuar de alguma forma interna sobre isso.
Clique aqui para ler um post-guia para lidar com o inverno
Essa é a dança ayurvédica da vida.
Super te entendo, Thais. Sou puramente vata e nunca fui fã de frio até chegar o verão de aquecimento global morando no RJ. hahaha Tenho sonhado com inverno e sopa e chocolate quente.