24 de fevereiro de 2021. Foi nesse dia que eu tomei o último comprimido de antidepressivo para finalizar o desmame da medicação e nunca mais tomar (até aqui).
Passados 2 anos e 2 meses sem sombra de recaída, me deu vontade de compartilhar com vocês um pouco desse novo momento, que é diferente, com seus desafios, mas com saúde mental.
Eu usei medicação durante 3 anos e 3 meses, tendo trocado duas vezes de remédio e 3 de psiquiatra antes de engrenar. Troquei de psicoterapeuta também, e nada disso foi fácil.
Mas do momento em que eu tive aquela “sentença” proferida pela médica, de que eu já havia, literalmente, tentado de tudo, e portanto não adiantava mais procurar causas físicas e sim aceitar a necessidade de outras medidas, eu me atirei de cabeça no processo.
Eu me agarrava à ideia de que um pequeno percentual de pessoas conseguia sair do quadro e obter a remissão dos sintomas (enquanto sentia medo de desencadear outros transtornos).
Foi nessa época, cheia de dúvidas, que eu comecei a compreender melhor a mim mesma, e entender as minhas oscilações de humor e energia. Me parecia que eu sempre tinha sido como estava naquele tempo, e eu ainda duvidava do que se passava lá dentro da minha mente.
Com obstinação em melhorar, eu talvez tenha maltratado um pouco a mim mesma nesse período. Eu queria a qualquer custo reduzir a doença a tomar o remédio de manhã e ir na psicóloga às segundas, e definitivamente, a lógica não é essa.
Ao mesmo tempo, essa mesma obstinação em melhorar me fez buscar inúmeras ajudas além do “feijão com arroz” da terapia e medicação. Fui de banho de sol a massagem relaxante, passando por acupuntura, terapia ayurveda e nutricionista só pra ajustar suplementos no período.
Vejo aqueles três anos como uma espécie de sabático de mim mesma, por ter aberto mão de ser quem eu era, literalmente. Quando me pergunto “o que foi que eu fiz” naqueles anos, preciso me recordar de que estava me tratando.
Eu trabalhei pior no início, muito pior, antes de melhorar. Quando melhorei (no trabalho, não de saúde) foi por ter aberto mão de muitas coisas que não fazia questão e carregava por carregar. E melhorei para ser ainda melhor do que já havia sido antes de adoecer.
Eu levei a atividade física com indisciplina, incapaz de me mover. E eu vinha de uma trajetória correndo provas, treinando bem, levando aquilo tudo muito a sério. Até hoje, isso não ficou 100%.
Eu abandonei qualquer capacidade de restringir minha alimentação durante todos aqueles anos. A fissura que sentia pelos doces, como se minha última molécula de serotonina se agarrasse às balinhas que consumia apenas como combustível, me impressionava.
Eu tentava compensar comendo também bons alimentos, mas passei de uma entusiasmada com alimentação saudável e dietas para uma dependente de muito açúcar. Isso passou, mas não completamente.
Eu gostaria de poder listar momentos-chave em que algo começou a melhorar, mas não foi algo perceptível. Aos poucos, eu me dava conta de que havia passado um dia inteiro sem me cansar tanto.
Daí, ficava uma semana bem, mas tinha um final de semana inteiro esgotada. E depois conseguia ficar mais tempo bem, e piorava, até que melhorava. Até que de fato passaram meses suficientes para meu médico definir que eu já podia parar com o remédio.
Desde então, sou uma pessoa “normal”, ou seja, sem diagnóstico, sem um CID no atestado. Isso significa que sinto dias melhores e piores, a energia ir e vir, despencar eventualmente, para então melhorar.
Pesa sobre mim algum receio de que eventualmente eu caia na estatística das recaídas, sendo a segunda vez ainda mais forte que a primeira. Mas confesso que penso cada vez menos nisso, enquanto vejo a vida passar com o seu filtro de “normalidade”.
Nesse filtro de “normalidade”, eu tenho tudo o que todo ser humano tem: ansiedades, estresse, dores, tédio. Mas lidando com isso com os recursos que possuo, sem necessariamente precisar de ajuda profissional para levar as atividades ordinárias do dia-a-dia.
Eu não me sinto particularmente mais feliz ou grata por não ter depressão. Eu só não tenho aquele peso monumental que tornava cada ínfimo movimento de vida mais dificultado, como se estivesse me movendo debaixo d’água.
E isso, para quem nunca perdeu o filtro de “normalidade”, não significa nada. Até você perder. Aí você passa a ansiar por ele, e nunca mais dá pouco valor a ele. Você saboreia a sensação de não ter algo te atrapalhando como um presente.
E de fato é mesmo - um presente que você mesma se deu, com a ajuda que conseguiu coletar pelo caminho.
Desejo que você sempre tenha esse presente consigo - e caso neste momento, tenha perdido esse presente, saiba que eu estou à sua disposição para ajudar.