Em dezembro de 2024, como fazemos sem falha há 8 anos, fomos passar o aniversário do Mozão num lugar diferente.
Eu tirei poucos dias de férias, as aulas na faculdade e na pós nem tinham terminado, e nós(ele, cof) estávamos com um propósito de economizar na viagem.
Além disso, embora Waffles seja rodado nesse Brasil em muitas road trips, hotéis e airbnb’s, a Pipoca ainda não havia vivenciado isso conosco, e era importante treina-la para curtir esse tipo de experiência.
A cada viagem que faço, confirmo que prefiro ir mais perto com meus cachorros, do que ir mais longe sem eles. Claro que o avião é um limite importante, mas estamos organizando a nossa vida para que eles fiquem de fora apenas em casos extremos.
Ficamos divididos entre Foz do Iguaçu e Bento Gonçalves, mas o Rio Grande do Sul ganhou por demonstrar que teríamos mais liberdade, idas e vindas ao hotel, passeios mais curtos.
Não tínhamos certeza do que isso representaria para os dois, num quarto em que ainda não conheciam, então era importante poder transitar bem. Em Foz, as coisas são mais distantes entre si e também tomam mais tempo.
Um pensamento intrusivo da gente numa cadeia paraguaia enquanto meus filhos morriam de fome e sede num Airbnb trancados também aconteceu.
Não é fácil ser eu, por isso, medito. Bento Gonçalves, aí fomos nós.
Reservamos um hotel recém inaugurado, novinho e muito confortável, o Plaza Boulevard Convention Center. Além de cumprir o óbvio critério de aceitar pets, a estrutura linda e o atendimento super personalizado nos encantou.
Para vocês terem ideia: chegamos quase 2h da madrugada, eles estavam nos esperando com sorriso no rosto, sabiam nosso nome, brincaram com os cachorros. Deixaram um recadinho de parabéns no espelho, e um bolo de aniversário (trocaram dois dias depois, quando de fato era a data).
Além da caminha e dos potes de água e ração, deixavam um biscoitinho para cada um. Na hora de ir embora, esqueci meu kindle enfiado nas cobertas, me enviaram pelos Correios.
Cobraram pela diária dos pets e pelo envio do kindle? Com certeza. Mas pagamos satisfeitos, pois recebemos um serviço de excelente qualidade.
Como tínhamos poucos dias, concentramos os passeios nas duas vinícolas principais do nosso interesse: Casa Valduga e Cave Geisse, que somos entusiastas da espumante.
Confesso a vocês que a Casa Valduga entregou mais em termos de vinhos gostosos, entretenimento e informações. Mas ambas experiências foram ótimas, informativas o suficiente para não ser chato para os leigos, e eu saí bebinha de ambas.
O preço é salgado: você gasta a partir de uns R$150 por pessoa pra uma degustação mais básica, e pelo menos R$200 para rótulos mais icônicos. Fizemos a básica na Valduga, e a premium na Geisse.
Tirando isso, aproveitamos para conhecer algumas lojas de chocolate. A Benevento foi nossa primeira parada, escolhemos pelo gramadão amplo e aceitava nossos pets - não só na área externa, eles foram convidados a entrar na loja, porém tenho noção e não entramos com eles).

Os famosos Caminhos de Pedra não achamos tão interessante, além da maioria dos locais não ter jardim, achei tudo com cara de loja demais. Visitamos a sede da Casa da Ovelha, sem entrar na visitação, e foi um pouco decepcionante.
Os preços são exatamente iguais comprando lá ou no supermercado mais próximo.
Também provamos os chocolates de outra loja, e a pizza deliciosa estilo napoletano da Otto e Mezzo, charmosa demais, além do divertido estilo informal de você pegar e anotar suas bebidas.
Uma coisa super bacana daquele relevo e clima (podemos também chamar de terroir), é que é uma terra excelente também para as delicadas frutas vermelhas e os pêssegos. Compramos bacias de morangos e mirtilos orgânicos numa barraquinha de estrada, e tinham várias.
O centro histórico de Garibaldi é muito bonitinho; infelizmente não pudemos caminhar tanto ao ar livre, choveu naquele final de semana, então fizemos alguns passeios pontuais conforme haviam brechas no céu.
Por todos os lados, encontrávamos mirantes e pontos de onde é possível apreciar a imensidão de morros verdinhos. Realmente foi uma pena ter chovido.
Inclusive, Bento, Garibaldi e Pinto Bandeira são praticamente extensões uma das outras, nem sempre percebemos quando entrávamos em uma e saíamos de outra. Fundamental ir de carro para poder circular bastante, as coisas são longe.
Os estabelecimentos e funcionários são super hospitaleiros, e você vê um alto treinamento e investimento de tempo e energia para nos explicar de onde veio a ideia daquele estabelecimento, como tudo começou, como é feito.
É como se eles pegassem o modelo das inúmeras vinícolas e replicassem nas mais diversas coisas que se tem para fazer lá.
Algo que me incomodou um pouco: o fato das cidades serem bem espalhadas nas suas atrações, você não tem aquele lugar por onde vai passar todos os dias e encontrar meio que todo mundo.
Isso de tudo ser longe e privado faz com que você tenha poucas oportunidades de sair explorando os locais, curtindo paisagens a pé.
Também é tudo muito focado na gastronomia e nos vinhos. Eu gosto, mas não a ponto de querer passar vários dias comendo e bebendo. Sinto falta de intercalar as atividades, como eventualmente fazemos em outras cidades.
Por isso, para nós, uns 4 dias são mais do que suficientes, e uma vinícola ao dia é a medida para não passar o resto do tempo em recuperação alcoólica. Mas é lógico que encontrávamos grupos animados bebendo vinho em todos os lugares e horários.
São muitas opções que só conhecemos ao chegar lá, e para quem tem esse espírito curioso, aprecia muitos vinhos, vai amar. Qualquer restaurante simples tem uma extensa e honesta carta de vinhos locais, em que você pode se jogar.
Um adendo sobre a ritualização do vinho
Eu bebo vinho por que gosto do sabor e por querer o fizz do álcool, é lógico. Tem muitas bebidas saborosas sem o efeito, então não vou mentir que o efeito não me importa.
Eu gosto da sensação que começa a escorrer pela minha corrente sanguínea em algum ponto entre o fim da primeira e a metade da terceira taça, em que fico alegrinha, falante e muito relaxada, descontraída.
Me sinto flutuando na água e alguém me puxando, sendo levada de maneira suave, agradável.
Algo que somos instigados a fazer nas vinícolas, é a ritualizar este momento. Enquanto aprendemos sobre tudo aquilo que envolve uma uva ser aprovada para produzir vinho, cada mínimo detalhe daquela imensa cadeia de produção, valorizamos mais este momento sublime.
Aprendemos o jeitinho correto de girar a garrafa, de usar aquela gaiola de arame que protege a rolha. Somos convidados a aproximar o ouvido da taça, sentir o som da perlage das bolhas.
Inalamos, fechamos nossos olhos, e retemos o primeiro gole na boca, antes de engolir. Falamos sobre as percepções em cada sentido.
Eu em casa, gosto especialmente de assistir a dança das bolhinhas recém libertas na minha taça, subindo velozes, diminutas. Acho o espumante rosé mais bonito, e foi lá que me ensinaram que essa coloração é um pigmento da casca de uva.
Brinquei que o espumante rosé é mais integral, já que leva cascas, portanto.
No último domingo, abrimos antes do almoço uma Cave Geisse que compramos por lá, para tornar um dia banal um dia especial. Abrimos, brindamos, e antes de começar a beber e comer, ouvimos um áudio de mindful eating, passado pela minha nutricionista.
O almoço foi outro.
De tudo o que essa viagem me ofertou, o que certamente eu mais gostei foi viver essa ritualização dos vinhos. Não chamei essa newsletter de Rotinas e Rituais à toa - eu estou muito interessada na ritualização dos atos que fazem sentido para mim.
Eu acredito que é o caminho para uma vida mais satisfatória, com significado. Essa praticidade de comer no sofá, direto da caixinha de papelão, é uma ficção dos Estados Unidos que pode ser divertida nas séries, mas não casa com a vida que quero levar.
Esse adendo foi escrito de última hora, e esse texto está sendo feito há semanas, por que algo faltava, e eu ainda não sabia o que era. Agora, me parece pronto.
Que tipo de ritual a gente pode proteger, disseminar, e tornar os atos que fazemos repetidamente mais significativos?
Essa é a pergunta que tem guiado minhas buscas recentes - e eu estou aberta a todas as opiniões possíveis.
Thais, em 2022, fomos para serra gaúcha e ficamos em Gramado. Foi muito gostoso, dava para andar muito a pé e não focar só na comida/bebida. E de lá saem passeios para Bento e outros pontos. Fica a recomendação com o adendo de que sim, muitas coisas são montadas no conceito "loja/comercial" e perde a graça, mas dá pra fugir haha