Espero te encontrar bem. Na quinta-feira da semana passada, tivemos o Dia de Ação de Graças nos Estados Unidos, um feriado intensamente celebrado, e que foi uma experiência muito interessante para mim quando andei por lá, em 2019.
Conheci Miami em novembro, por que nunca havia passado dias nos Estados Unidos, mas também, não daria conta do frio de outra costa.
E cheguei dias antes do thanksgiving por lá, e mesmo sem ter uma família, amigos ou qualquer outro grupo, eu pude experienciar um pouco do que o feriado representava.
Dias antes, era tudo sobre esse dia: perus de tamanhos inacreditáveis, tortas de maçã, purê de abóbora estavam à venda em todos os cantos. Cartões e decoração.
Todas as pessoas com quem conversei, tinham planos: iam visitar os pais, receber filhos e netos, tudo ia fechar. Mesmo uma cidade turística no coração do capitalismo mundial havia desacelerado.
De muito CCAA que já fiz nessa vida, costumávamos comprar o frango assado de supermercado e pesquisar cartões de papelaria na internet, para nos ajudar a entender aquele feriado que parecia ser mais importante que o Natal.
Espero um dia ainda ter a oportunidade de presenciar aquela cena de jantar, onde cada pessoa dá graças por algo que tenha recebido.
E obviamente, em tempos de gratiluz nas redes sociais, me ocorreu falar sobre o hábito de agradecer.
Anos atrás, a primeira vez que ouvi falar sobre a prática de gratidão, era a ultrafamosa Liz Gilbert, do subestimado livro Comer, Rezar e Amar (não, se você só viu o filme, não conhece o livro - ele vale todo o hype).
Ela anotava pequenos agradecimentos e jogava os papéis num jarro de vidro, e quando enchia até a boca, o procedimento era simples: start another jar!
Eu escolhi um caderno qualquer, e fui anotando meus motivos para agradecer. Ele fica sempre comigo, perto do sofá da sala, e às vezes faço todos os dias, às vezes passo meses sem fazer.
É muito legal folhear e ver as coisas que me tornaram grata num dia qualquer 3 anos atrás. E por mais reticente que eu seja com assuntos que cheiram a positividade tóxica, preciso reconhecer que isso me deixa num estado mental melhor.
De fato, o hábito ativo de agradecer pelas coisas é um indutor de estado potente.
E conforme você vai exercitando este hábito, vai ficando mais e mais capaz de reconhecer os pequenos milagres que todos os dias acontecem ao nosso redor.
E aí eu não sei se eu só estou mais calibrada para notar, ou se realmente os milagres vão aumentando de proporção e frequência. Mas é exatamente assim que acontece.
Daí que em 2022, a vida me levou a tirar umas férias na Escandinávia, e lá, me deparei com o hygge para além do hype. Por ter lutado muito com a minha depressão nos anos recentes, fiquei muito interessada naquele conceito.
Eu sou facilmente influenciada pelo meu ambiente externo, e sensível aos climas frios e chuvosos de um jeito ruim.
E o hygge é uma série de práticas, além de uma visão de mundo, sobre como criar contentamento interno, apesar dos fatores externos.
Vale o disclaimer que se existe um lugar no mundo onde a social democracia concedeu dignidade às pessoas, é lá - então falar sobre o que você pode fazer individualmente soa menos ofensivo.
E existe um capítulo todo sobre gratidão dentro dessa ótica hygge, que agradecer é lembrar a nós mesmos de não dar as coisas como certas e garantidas. Aquilo que em inglês fica bem mais direto, o don’t take it for granted.
Gratidão é mais do que um simples “obrigado” quando você recebe um presente: é manter em mente que você está vivo(a) agora, permitindo-se focar no agora e apreciar a vida que você leva.
Focar no que você tem, e não no que você não tem. Pois como o livro também comenta, nossa espécie é uma grande fã de novidades, rápidos em nos adaptar a coisas novas, principalmente quando são boas.
E aí você precisa descobrir coisas novas pelas quais agradecer. Eles até propõem um exercício criativo: pensar na melhor vida possível que você poderia levar, e na pior possível.
Existe uma distância entre estes cenários: onde você se encontra? (Se algum estoico achou isso parecido com memento mori, estamos juntos).
E para arrematar esses conceitos, me ocorreu dividir com vocês um último, que também tomei contato recentemente - com uma das minhas professoras de Nutrição, vejam só.
Ela nos apresentou um conceito chamado savoring, muito utilizado pela psicologia positiva, principalmente nos Estados Unidos e Canadá. Significa “saborear”, porém se refere a coisas além do gastronômico.
Se você é casada(o) e o fez por amor, poderia estar savoring acordar ao lado dessa pessoa hoje de manhã. Provavelmente, você sentia isso te preencher nos primeiros tempos.
Mas tem alguma chance de ter sentido tédio, aborrecimento ou mesmo nada sobre esse fato tão extraordinário. Lembro quando, meses atrás, acordei sem dor depois de um acidente.
Sem dúvidas, estava mais propensa a saborear um corpo íntegro e sem dores assim que recuperei esta dádiva. Que nem quando seu nariz finalmente desentope.
Entrar em casa, depois de um dia todo trabalhando na rua, e ver que seus filhos estão vivos, seguros, e fazem questão de falar com você.
Acho que especialmente no que toca às pessoas que amamos, o savoring precisa ser relembrado. Como pequenas âncoras no seu dia. Aquele beijinho de tchau pode ser um gatilho para você lembrar de saborear.
E juntando estes três “modos” de cultivar uma atitude mais grata, divido com você na expectativa de aliviar um pouco a sobrecarga e o cansaço que rondam os finais de ano.
Eu mesma já ando batendo pino. Induzir um estado mais grato e, portanto, mais positivo frente aos dias cheios de picos e vales, me ajuda.
Espero que também possa te ajudar!
Eu inclusive dividi todas as minhas dádivas pelas quais agradeci hoje, lá no blogue - se você quiser ter ideias de como costumo fazer. Clique aqui para ver.