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Espero te encontrar bem. Na última edição, te contei que eu estava em Edimburgo de férias. Agora já estou de volta à minha casa, e reestruturando a rotina para o segundo semestre.
Tiro duas férias ao ano para viajar mais, mas também para não me cansar em excesso. E essas férias, apesar de curtinhas, me fizeram dar um reset profundo e completo em áreas do meu cérebro que eu julgava perdidas.
Explico.
Tem um livro, muito interessante por sinal, do Michael Pollan chamado Como Mudar Sua Mente, em que ele faz uma extensa cobertura sobre o universo das substâncias psicodélicas como medicação (sem preconceitos, você pode ficar surpresa com os avanços).
Só que além de documentar, ele mesmo faz algumas incursões a este universo, além de se aprofundar na meditação, e também dá um panorama sobre o funcionamento (em geral) da nossa mente. E ele traduz com perfeição algumas coisas que vejo em mim, tipo:
Para minha infelicidade, na maioria das vezes eu vivo em um futuro próximo; meu termostato psíquico está ajustado para uma temperatura morna de expectativa e, muitas vezes, preocupação.
E o que isso tem a ver com matar a saudade de mim mesma? Aí vou precisar recorrer um pouco mais a ele, sem fazer citações. Logo no início, falando sobre como viajar a um lugar desconhecido nos força a prestar atenção ao caminho, ficamos muito mais presentes.
Se estamos naquela rota habitual, podemos ir e vir como se tudo fosse um plano de fundo, enquanto mantemos a mesma “programação mental” passando: as coisas que tenho que fazer, entregar, comprar, o que vou comer…
Aí eu pego um avião, passo quase 14h em trajeto, e desembarco em outro continente, onde o volante fica do lado direito do carro, além do sotaque fazer com que todas as mulheres pareçam a Keira Knightley falando.
No processo de achar o caminho para os lugares, de me comunicar com estranhos, pedindo humildemente que repitam a última frase ou pergunta, além de praticar o delicioso esporte de tentar captar a fofoca do vizinho no metrô (ouvindo só um lado da conversa pelo telefone), algo de muito valioso me é devolvido.
O meu termostato psíquico que bebe o presente aos goles imensos, pelos 5 sentidos. Que literalmente cheirou todas as flores do caminho, para assim poder identificar qual delas exalava um perfume intoxicante na primavera quente de Londres.
Agudizo minha audição para não perder o final daquela reunião entre dois advogados numa sorveteria (naquele dia não teve acordo). Em uma certa manhã, me desloco com agilidade pelo transporte público e sinto aquela familiaridade antiga.
Essa sou eu. Sinto como se meu cérebro fosse uma faca cega, cortando pão com dificuldade, e de repente recebe uma super sessão de amolador. Corta um bife como manteiga (peço perdão aos meus amigos vegetarianos por essa metáfora).
Absorver estes dias de férias, parecem ter renovado o meu fôlego, como nada nos últimos anos o fez.
Ao voltar para casa, me sinto afiada, certeira, e apesar de abatida com um resfriado, sou mais ágil agora, do que no último ano inteiro. Me sinto capaz(cognitivamente) como não me sentia há muito tempo.
Como se tivessem limpado minhas lentes. E é com esse espírito que inicio o próximo semestre - além de meditação diária, lógico, porque a viagem ao Reino Unido custa uma fortuna.
Todo mundo precisa de psicodélicos ou de uma viagem a outro continente para fazer o reset? Acredito que não - mas precisamos de algum ritual, algum processo verdadeiramente imersivo para isso. Eu acredito.
Qual é o seu?
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