Igualzinho em 2023, no dia 31/10 eu dei uma última olhada no meu instagram, deixei um post no feed avisando que ia sair e desinstalei o aplicativo.
Já se passou metade do mês.
Eu vinha recebendo, nos relatórios semanais de uso do meu celular, uma extensa carga horária de uso de redes sociais. Minha produção de conteúdo sobre ayurveda ou qualquer outro tema em franco declínio.
Eu não estava lá pra divulgar meu trabalho, me relacionar com as pessoas que gosto, eu estava lá num automatismo exaustivo.
Somados aos motivos que no ano passado me fizeram sair, e que você pode ler clicando aqui, neste ano eu estava profundamente preocupada com o meu nível de concentração e atenção.
Entre o meu emprego, a faculdade de Nutrição, a pós graduação em Nutrição, as aulas de yoga que dou, e a manutenção da minha vida, havia sempre um tempinho para ver os stories no instagram.
Ao contrário do que acontecia nos primórdios, quando esse hobbie era algo que eu fazia, me causava divertimento ou aprendizado e depois eu ficava feliz, agora eu fico chateada depois de uma boa sessão de sofá com celular nas mãos.
Tentei retomar o planejamento da produção de conteúdo, me dediquei, e esbarrei numa batalha algorítmica que, neste momento, tem entregado melhor quem posta menos (fiz vários testes nesse sentido e aqui pelo menos confirmava assim).
Me identifiquei com um conceito do The Molecule Of More, um livro sobre dopamina (que aqui tem a versão em português), em que o autor explica que nós nem sempre gostamos da recompensa dopaminérgica que obtemos.
Como o próprio autor explica, há uma grande diferença entre querer alguma coisa e gostar dela. Eu vinha sendo recompensada de maneira empobrecida nas minhas redes sociais.
Muito embora eu tenha retornos gostosos de ouvir, de amigas, colegas, e até desconhecidos que dizem se divertir muito comigo nas redes sociais, esse retorno é muito pequeno quando comparado ao tempo de vida que me toma.
Eu fui parar aqui para pensar nas pessoas que estou sentindo falta de “assistir”: ficou evidente que são pessoas que não existem nos meus relacionamentos reais.
Sinto falta de alguns infoprodutores inclusive, cujo trabalho me ensina e inspira. E aí, algo mágico também aconteceu: eu me voltei para os conteúdos de maior fôlego dessas pessoas. Seus cursos pagos, participações em podcasts, e livros em alguns casos.
No dia 1/11, ficou aquele hábito residual de ir automaticamente com o dedo no lugar onde o ícone ficava no meu aparelho. Passado esse primeiro dia, porém, estou apenas tranquila.
O instagram me fez muito menos falta do que julguei que faria, pelo menos nesses primeiros 15 dias. Mas como eu queria extrair mais aprendizados desse período, eu aprofundei um pouco o plano.
Criei uma tabela simples, com os 30 dias do mês, e estou metrificando outros hábitos pequenos, de curta duração, e que podem me recompensar melhor a médio/longo prazo.
Coisinhas como fazer 1 minuto de prancha, meditar por 5 minutinhos, cultivar algum lazer de forma intencional (como assistir filme, escrever, desenhar - até comprei giz de cera pra isso).
Ano passado eu lidei com um certo “vazio” e sobra de tempo, então nesse ano, queria me colocar em movimento, preencher o vazio. Uma vez que, de verdade, não existem espaços vazios - pelo menos não por muito tempo.
Isso também é reforçado por um outro livro muito legal que estou terminando de ler, o Trabalho Focado, de Cal Newport - o mesmo autor de Minimalismo Digital.
Ele explica como o nosso foco precisa de um certo tempo para ser alcançado, coisa que não se consegue em 15 minutos, ou com uma grande alternância de atividades. Existem certos patamares (intelectuais, emocionais, espirituais) que você só alcança com a profundidade.
Eu não quero atingir esses patamares em tudo na minha vida, mas em muitas áreas, é exatamente o que eu desejo. Daí que veio a ser muito auspicioso poder ler esse livro perto do meu “doce novembro”, sem instagram.
Até agora, foram poucos momentos de foco ou profundidade. Mas ao mesmo tempo, foram muitos momentos de descoberta, autoconsciência, percepção do que escolho fazer com meu tempo, meu nível de energia mental, e por aí vai.
Acredito que faça parte do caminho de volta a algum estado mental mais qualificado, passar por esses entulhos.
Sempre que eu conto do experimento, como chamo essas férias fora do instagram, as pessoas sorriem, demonstram entusiasmo e aparentam querer algo parecido para si.
Eu encorajo muito que você faça a sua experiência, nem que seja por uma semaninha. Sinceramente, um ou dois dias é pouco, mas a partir de 7 dias, é perceptível a mudança.
Às vezes, aquele tempo que a gente diz não ter para fazer algo que gosta (tipo ler, escrever, cozinhar), pode ter ficado espremido em paradas demais para usar o celular.
Adorei o "Até comprei giz de cera pra isso". Afinal, por que paramos de usar giz de cera depois de adultos? Por mais momentos coloridos com giz de cera em nossas vidas =)
É o segundo ano que me dá muita vontade de aderir também...