Espero te encontrar bem.
Escrevo essa mensagem como um registro e espécie de “aviso de ausência” das redes sociais, que começa hoje - no caso, já começou.
Antes de dormir, no dia 31/10/2023, eu deletei o aplicativo do instagram, e pretendo retornar a partir de 1/12/2023. Vamos ver.
Por isso, o primeiro recado é que se você me mandar um direct, será respondido com uma mensagem automática pelo manychat. Deixei uns conteúdos agendados de feed.
Vou continuar com a minha vida normal em outras redes (como o whatsapp e até o TikTok), pois o meu calo no dedão vem sendo o instagram mesmo. Explico.
O instagram piora o meu consumismo.
Eu sou uma pessoa bastante vulnerável aos anúncios. Especialmente, de infoprodutores. Eu realmente caio em todos os pitch de vendas e passo o cartão, achando que vou ter uma mudança importante na vida com aquele novo método.
Meu hotmart está lotado, eu faço graduação, tenho 1 emprego formal e outros 2 que concilio em paralelo, e faço a formação em yoga. Realmente comprar outro curso seria insano.
Mas nem tudo são cursos: eu também compro cosméticos, majoritariamente guiada por pessoas que acompanho, uma ou outra peça de roupa. Alguém posta um livro, e lá vou eu.
Novembro terá Black Friday e os anúncios já estão bem atraentes. Preciso me vigiar, e o melhor jeito (pra mim, agora), é sair de perto. As finanças agradecem.
O instagram piora o meu humor.
Não assim diretamente, ficando com ódio de alguém que posta coisas que discordo. Mas de uma forma sutil, aparentemente inofensiva, me vejo mais irritada.
Fico ali, passando pelos stories (meu conteúdo preferido, nem olho feed), e posso responder irritada quando alguém me chama e “quebra o transe”.
Às vezes, tenho também aquela sensação de que não tem nada de bom pra assistir, mas mesmo assim continuo assistindo. Tipo antigamente na TV aberta?
Eu já me diverti muito mais lá, e hoje acho cansativo.
O instagram me rouba tempo útil
Eu tenho muitas ocupações, entre trabalhar, estudar, cuidar da casa e nutrir meus relacionamentos. E semana após semana, vejo algo ficar sem fazer.
Daí no domingo de manhã, o iphone me manda o relatório semanal e o “tempo de uso” me revela por qual ralo o tempo escorreu.
Facilmente eu desperdiço muitos minutos preciosos, que me fazem falta na hora de entregar um trabalho, ou mesmo assistir um dos meus muitos cursos que comprei.
Minha mente já não é mais a mesma
Eu tenho menos capacidade de me concentrar nos estudos (tipo uma apostila de Bioquímica, por exemplo, que exige muito mais de mim), e também nos entretenimentos comuns, como um filme.
Os filmes já estão mais curtos, e mesmo assim, tem horas que eu deixo de escolher um deles pelo tempo que leva. Também me habituei a deixar o Youtube como pano de fundo, enquanto sigo mexendo no celular.
Sim, eu me comparo, mesmo sem querer me comparar
Racionalmente, todo mundo sabe que ali vemos uma realidade editada. Assim como, quando vemos os antigos álbuns de fotos, eles costumam ter pessoas sorridentes e arrumadas, numa festa ou viagem.
Porém, em muitos dias, eu estou aqui, vivendo a minha vida ordinária e relativamente comum, e depois de 5 semanas de chuva ininterrupta em Santa Catarina, vejo um reels de pessoas em Santorini.
Ou tudo bem, elas estão aqui mesmo em Jeri. E isso causa uma pequena pressãozinha, lá num lugar meio inconsciente, de que eu queria estar lá agora, bem longe desse clima que me deprime.
E isso me deprime ainda mais.
Ou ainda quando alguém mostra que vai fazer uma “comidinha caseira”, usando ingredientes como salmão, filé mignon e trata isso como algo simples, e definitivamente, isso só aparece em ocasiões especiais aqui.
Também tem aquele dia, que uma influenciadora com várias ajudantes em casa, vai despejar a sua glutamina num copo, e acaba esparramando um pouco de pó na bancada ampla, farta e iluminada.
E aí ela diz “nossa, baguncei tudo aqui” - e eu lembro da minha própria bancada, lotada, com um lascadinho na madeira, iluminação desfavorável, e penso: se aquilo é bagunça, do que eu chamo isso?
Na realidade, o termo correto não é que eu “penso”. Eu sinto, e é um sentimento confuso, pouco racional e que causa um pano de fundo mental mais deprimido.
E ficar nessa paisagem mental constantemente, pode estar me confundindo.
O instagram me distrai até do que eu não quero me distrair
Todo mundo entra pra quebrar um pouco o tédio e se entreter. Justo. Só que hoje (pra mim), virou uma espécie de sala de casa, um cômodo da minha vida real.
E isso pode fazer com que eu deixe de estar na verdadeira sala de casa, conversando, ou mesmo me entretendo de outras formas, para estar ali sem muita razão de estar.
Se a cada vez que eu me sentir entediada, eu apertar o mesmo botão, isso me torna uma pessoa menos habilitada a contornar os momentos mais desafiadores. E eu firmei um compromisso comigo mesma, de que eu quero lidar com meus sentimentos.
É natural que eu me distraia em alguns pontos da jornada, mas não na frequência diária que o instagram me distrai.
É tudo culpa do instagram?
Bem, eu não posso ignorar aquilo que nós todos sabemos a respeito de como as mídias sociais são “pensadas” para manter você cada vez mais dentro delas. Então tem boa parte dele, sim.
Mas eu não gosto de ignorar que eu tenho um pedaço de responsabilidade sobre isso, ao não definir uma “política de uso” que me deixe confortável a longo prazo.
Essa minha política de uso está em aberto, embora eu já tenha lido muitas coisas interessantes sobre como fazer. E eu pretendo aprofundar esse tema comigo mesma, durante o próximo mês.
Algumas leituras legais, se você quiser aprofundar
Eu tomei essa decisão após alguns dias pensando, e até me preparando psicologicamente. Talvez você ache isso interessante, e queira saber mais.
Eu deixo três livros como sugestão, que não são extremamente atuais (por exemplo, são pré TikTok, um fenômeno muito diferente e que precisa ser estudado).
Você pode não encontrar soluções práticas de “como usar” neles por causa disso (algumas redes já caíram em desuso). Mas todo o embasamento de por que precisamos ter muito mais cuidado com esse uso, faz muito sentido.
10 Argumentos Para Você Deletar Agora Suas Redes Sociais, Jaron L’anier - foi o primeiro que li, vários anos atrás, e ajuda muito a entender fenômenos de hate, discussões online, mesmo que ele use exemplos datados, como fóruns e blogs;
Minimalismo Digital, Cal Newport - esse livro é extremamente valioso, completo, fala das perdas que o uso indiscriminado causa embasado em pesquisas (inclusive práticas, conduzidas pelo autor), além de propor um “protocolo” pra você desintoxicar (foi daqui que eu tirei os 30 dias fora);
Sociedade do Cansaço, Byung-Chul Han - não fala de redes sociais em específico, mas aprofunda a discussão de como o multitasking é na verdade uma grande armadilha. Ano passado até falei sobre isso nessa newsletter aqui.
Eu pretendo reler os três livros esse mês, para me fortalecer no propósito do mês, e posso eventualmente compartilhar uns insights por aqui.
Se você chegou até o fim, respire que terminei. Agradeço como sempre por ter pessoas que aguentam um textão, isso me nutre e renova a esperança de criar conteúdo de valor.
Eu tenho um blogue pessoal, muito abandonado nos últimos anos, que pretendo alimentar um pouco mais ao longo desse mês, e assim não sobrecarregar a newsletter com o tema.
Clique aqui pra dar uma olhada, se quiser acompanhar mais de perto a jornada.
Thaís, que chacoalhão necessário, pra mim, sobre sair do Instagram. "Sim, eu me comparo, mesmo sem querer me comparar".... esta frase me pegou demais! Obrigada por compartilhar o que rola por aí, pois reverberou aqui também :)