Espero te encontrar bem hoje. Essa newsletter quase que não sai, mas achei que já tinha algo a dividir.
Como você pode ter lido, estou há 6 dias sem instagram, e notei um monte de coisas já - embora essa edição não seja sobre isso. É impressionante o tempo que encontrei para me olhar, sem olhar a vida dos outros.
Lógico que preciso me dar alguns créditos, são anos de muita busca. Mas no período recente, algumas peças se encaixaram, e vou dividir com vocês umas ideias - além de leituras.
Primeiro, essa diferenciação entre introvertido versus tímido
Muita gente sente que leu O Poder dos Quietos, de Susan Cain, mesmo sem ter lido - e eu era uma dessas pessoas. Eu ganhei o livro em 2018, deixei jogado num canto de casa, até que pessoas de quem gosto da curadoria, passaram a recomenda-lo.
A síntese desse conceito de introversão ou extroversão explicou muita coisa. Introvertidos gastam energia quando interagem socialmente, extrovertidos ganham energia quando interagem socialmente.
E isso explicou por que, apesar de ser a primeira a levantar a mão na hora de ler em voz alta ou subir num palco, eu sempre saía exaurida depois de um fim de semana na praia em grupo.
Estou finalmente lendo o livro, cujo foco é mais voltado para “sucesso” profissional, como nosso mundo hiper valoriza personalidades mais extrovertidas, que podem passar uma segurança ilusória de saber/fazer mais.
Porém foi num dos capítulos iniciais, em que a autora conversa com pesquisadores que “testam” a sensibilidade dos bebês a ruídos, cheiros e luminosidade, que algo também se revela para mim.
Os bebês mais calminhos em qualquer condição, são aqueles que não são tão sensíveis aos estímulos externos, enquanto os que choram ou se agitam, são aqueles que buscarão o silêncio e a tranquilidade sensorial ao longo da vida.
Ainda preciso confirmar isso com minha mãe, no caso dela se lembrar, mas hoje eu sofro com estímulos sensoriais em excesso (como o aroma sintético de cereja com avelã que parece dominar 99% dos palitinhos de aroma em recepções pelo mundo).
Tive que fazer meu namorado trocar de perfume 2x, além de recomendar quantidades ínfimas, sob pena de ser atirada numa crise de enxaqueca caso ele (um extrovertido contumaz) passe a quantidade de perfume que realmente aprecia.
Fui embora de lojas e outros ambientes cheios de opções por não suportar lidar com aquele estímulo, embora provavelmente tenha dito que estava cansada do dia.
Fingi ouvir música em fones desligados por vezes demais, tentando evitar o small talk onipresente no meu emprego. Eu não suporto isso - por mais que finja não me incomodar.
A alta sensibilidade pode ser também um tema maior do que parece
Uma coisa levando à outra, semanas atrás ouvi falar pela primeira vez do Pessoas Altamente Sensíveis, um livro relativamente semelhante ao do tópico acima.
Além da parte óbvia, que é uma sensibilidade mais exacerbada a estímulos sensoriais, o livro adentra também naquela sensibilidade de não processar as coisas num tempo “médio”, que a maioria das pessoas diz levar.
Eu sempre levei mais tempo para assimilar mudanças, e antes de qualquer passo importante na minha vida, preciso repetir isso comigo mesma, no meu pensamento, várias vezes, antes de realizar na prática.
Nos tempos do mestrado, eu levava cerca de 4 dias só pensando no artigo, antes de efetivamente sentar e escrever de uma vez (parecia ser de uma vez, mas sem essa etapa prévia, não dava).
E é lógico, existe uma certa “vantagem” em você conseguir ler o mood das pessoas em qualquer ambiente, além de chocar alguns incautos com alguma hipótese que se prova 100% correta.
As pessoas altamente sensíveis têm essa noção do “termostato social” dos outros por serem observadoras mais atentas e com “recursos extra”. Pode ser de grande valia, é lógico.
Também quer dizer que, eventualmente, essas pessoas vão ter reações aparentemente desproporcionais aos fatos, sugerindo que são um pouco (ou muito) dramáticas.
Nem tudo é benefício na vida.
Ligando alguns pontos com as redes sociais
É lógico que pesquisas têm recortes específicos, e nós somos mais que um tipo de personalidade, ou uma característica comportamental.
Pra continuar me usando de exemplo, eu sou a introvertida que é extremamente suscetível a recompensas imediatas, e que sem dúvidas, pegaria o primeiro marshmallow e sairia correndo.
(As pesquisas sugerem que introvertidos teriam mais capacidade de disciplina e constância, e também de adiar recompensas).
O que não quer dizer que isso me faça bem - pegar a recompensa imediata, usar logo o dinheiro, comer logo o doce, desistir logo da atividade. Eu me beneficiaria muito de adiar as recompensas, como todo mundo na vida.
A diferença, talvez, é que retirando alguns fatores, como é o instagram no meu caso, eu sinta mais intensamente os benefícios na minha vida, de forma assustadoramente rápida.
São só 6 dias sem a rede, mas o que eu sinto há 6 dias é um tremendo alívio e sensação de descanso mental e sensorial. Houveram momentos pontuais em que os meus dedos buscaram aquele íconezinho, porém, ao não achar, não me senti mal.
Senti que consegui ouvir mais o que estou pensando, sentindo e efetivamente buscando, quando escolho uma atividade. O instagram me dava uma solução pronta, imediata e sem criatividade para o tédio, a curiosidade, a irritação.
Agora cabe a mim definir se preciso de um livro, uma música, uma sequência de saudação ao sol, uma comida (em algum momento precisarei ver a solução pronta em forma de açúcar - mas vamos com calma).
Não há a menor dúvida de que a vida fora das redes sociais toca outra batida. E por enquanto, isso me fez mais bem do que mal.
E isso parece ter conexão com ser introvertida, com ser altamente sensível, ou até mesmo neuroatípica(sem diagnóstico fechado). Algo na minha circuitaria está trabalhando com menos sobrecarga agora, do que há uma semana atrás.
E eu realmente acho que todos nós estamos precisando aliviar a carga.
De uns dois anos pra cá, eu que amava ler, nunca mais peguei um livro.
Entre streaming e Instagram, não dá.
E olhe que só entro pra olhar, n trabalho com isso. Acho que no fundo perdemos o foco em outras coisas e terminamos naquela sede de não perder stories, pq vai apagar .
Guria, estou pensando em aproveitar o final do ano para fazer esse movimento de detox do Instagram. Seu texto vai me ajudar a decidir melhor :)