Como ayurveda pode te ajudar em viagens?
A fisiologia ayurvédica num processo altamente complexo, como o voo
Pensar uma viagem de avião ayurvedicamente exige um bom disclaimer: viajar era algo raro e totalmente contra indicado quando os livros clássicos foram escritos. Viajar era perigoso, desconfortável e com custos incalculáveis.
Tem quem não goste dos dias de hoje, mas uma das razões para eu amar viver nos nossos tempos é justamente poder entrar num avião e cruzar continentes inteiros em questão de horas.
Isso não significa que não hajam desconfortos e até prejuízos para a saúde: as condições que tornam a cabine do avião segura e a viagem rentável para a companhia aérea cobram um preço na nossa saúde, e sabendo disso antecipadamente, é possível amenizar alguns problemas.
De acordo com os clássicos ayurvédicos, viagens eram contra indicadas para a saúde por agravarem o dosha vata, cujas características são seco, frio, leve, áspero, instável. Eles se referiam a caravanas meio pedestres, meio no lombo dos animais. Esse movimento veloz (para o seu tempo) tinha esse potencial de agravar o vata.
Imagine a velocidade multiplicada por centenas de vezes mais, com distâncias ainda maiores, numa cabine pressurizada e com temperatura média de 14 graus. Se isso não é seco, frio, leve, áspero e instável, eu não sei o que é.
Muitas pessoas se queixam do desconforto das poltronas, mas ayurvedicamente, esse é apenas um problema entre vários outros. Passar tantas horas sentado dificulta a digestão dos alimentos (vamos chegar na alimentação servida no voo).
Não são poucas as pessoas que passam mal voando, seja com enjoo, seja com ansiedade mesmo por conta da magnitude do risco. Crises de pânico e ansiedade são um distúrbio ocasionado pelo agravamento de vata.
Gases, constipação, arrotos e ressecamento da pele, olhos, garganta e nariz também são desequilíbrios de vata, e constantes em voos longos. Acho que já te convenci a essa altura, de que viajar explode o vata, certo?
Vamos falar de soluções.
Ayurveda é a medicina dos contrários
Ayurveda nos ensina a compensar o ambiente externo e interno o tempo todo. Sabendo do que estamos falando, é preciso operar de modo a contrabalançar esses atributos de vata que estarão mais presentes no ambiente.
Para o frio, obviedades: uma boa roupa, mas enfatizo a importância de cobrir as extremidades do corpo. Calçar meias nos pés, se tiver um gorrinho para a cabeça, melhor ainda. Procurar tapar o pescoço, se você tem a garganta mais sensível.
Procure também ingerir alimentos mais quentes e picantes, na medida da sua disponibilidade. Aceite os chás, escolha os alimentos mais quentes e untuosos. Se estiver muito empolgada, leve algumas coisas na sua própria bolsa.
A título de exemplo, eu trouxe muitos sachês de chás variados, para apenas pedir a água quente do serviço de bordo.
Pensando no atributo da secura, são diversas possibilidades de amenizar o problema. Tem que ter um colírio. Sério demais, minha gente. Qualquer um neutro que sirva apenas para lubrificar os olhos. Usar a cada 3h, pelo menos.
Uma hidratação realmente potente na pele que fica exposta, como a do rosto e das mãos. Quem sofre muito com secura no nariz, uma gotinha de óleo de gergelim em cada narina é excelente (eu levo num conta-gotas minúsculo, mas você pode apenas fazer isso em casa).
Nesses voos estamos novamente de máscara, o que além de proteger contra COVID e outros vírus de gripe, ajuda também a umidificar um pouco a respiração. Tem que beber água o tempo todo, também. Pela garganta, mas pelo corpo todo, que está desidratando sem a gente nem sentir.
A leveza e instabilidade do vata, num voo, se vê no movimento do avião, mesmo que suave (e às vezes nem tanto). Mas tem um outro detalhe que altera também esse atributo, chamado entretenimento de bordo.
Nada contra a pessoa ver um filminho legal durante o voo – eu mesma vi dois. Meu professor é radicalmente contra, mas digamos que ele é um ser humano mais evoluído que nós. No entanto, mesmo que esteja sem sono, é preciso descansar a vista e a mente um pouquinho.
Escurecer tudo, usar uma máscara de olhos, relaxar por alguns minutos. Ótima forma de fazer o descanso sensorial, de que falamos na última newsletter, sobre os 7 tipos de descanso (clique aqui para ler). Isso faz muita diferença.
A alimentação é uma questão complexa: a comida costuma ser além de pouco saborosa, meio indigesta. Eu levo a minha comida – não uma refeição completa, mas lanchinhos o suficiente para não depender do que eles oferecem.
Coisas portáteis, e que são permitidas pela regra: frutas (só não pode desembarcar com elas no país), oleaginosas, proteína em pó, às vezes até um sanduíche ou comida mesmo, desde que sólida.
E a não ser que você viaje de primeira classe, o vinho que eles servem não vale a pena. Sério, evite o álcool no voo, que além de desidratar, pode te causar outros problemas.
Por último, tem uma dica que eu considero disruptiva e aconselho todo mundo que eu posso: opte por voar de dia, principalmente acima de 6h de duração. Isso faz muita diferença na sua capacidade de ajuste no novo fuso horário, na qualidade do seu repouso.
O voo noturno parece uma boa forma de economizar duas diárias de hotel, mas na prática, você precisa chegar cedo demais para fazer checkin na hospedagem, e no dia de ir embora, passa umas 12-15h com as malas em algum canto aleatório, porque o checkout é bem antes do voo de fato.
Viajando de dia, você consegue passar a viagem acordado, e planejar o ajuste do fuso ainda durante o voo. Chega no destino à noite (a não ser que esteja indo para a Austrália ou coisa parecida), e pode ir direto para o seu hotel, dormir uma boa noite numa cama, e começar a curtir na manhã seguinte.
Ainda não cheguei na fase em que consigo pagar pela classe executiva do avião, então também acho mais confortável poder levantar, caminhar pelo avião e tudo o mais que for preciso, com a maior parte das pessoas acordada.
Espero que você viaje muito, se esse é o seu desejo – eu quero viajar cada vez mais. E experimenta planejar o seu voo tendo essas informações em mente. Tenho certeza que vai ser uma viagem muito mais agradável.