Espero te encontrar bem.
Nas minhas recentes férias, aproveitei para fazer aquele comum procedimento de eliminar as roupas já sem uso de dentro do armário, “pra fazer a energia circular”.
Algumas foram tão fáceis: vestidos que não saíram de casa por 12 meses me vestindo, onerando o meu exíguo espaço. Tem coisas ainda que “têm potencial”, mas na realidade, poucas vezes são escolhidas.
E na realidade, existe um motivo para não escolhermos o que não escolhemos: seja conforto ou até o efeito na gente - quantas vezes a coisa bonita na vitrine/arara não me vestiu bem, e ficou morando no armário até eu admitir que foi um erro comprar…
Do armário de roupas, rumei para a despensa da cozinha, o que sempre me parte o coração. Toda vez que incursiono, encontro bons (às vezes excelentes) produtos não só já vencidos, mas de fato totalmente impróprios para consumo.
E quase sempre, isso ocorre quando me atrevo a comprar coisas para projetos de uma cozinha que “quero passar a fazer”, mas que de fato ainda não faço.
Assim como as mesmas roupas rodam do varal para o meu corpo e cesto de roupa suja sem quase repousar no armário, ingredientes mais habituais nunca chegam a vencer.
Estou falando do macarrão de arroz em formato curtinho, enquanto o espaguete não sai por que me causa aflição ter que balançar aquela panela alta e pesada, cheia de água fervendo, no caminho do fogão até a pia, correndo o risco de tropeçar nos meus cachorros.
De extrato de tomate orgânico, que compro em sachê e já congelo a outra metade depois de abrir, de leite de coco de garrafinha, de creme de leite vegetal.
Já os pobres pacotes de pappardele, latas de sardinha, castanhas a granel para tentar fazer meus próprios leites vegetais, são itens que não têm saída, mas me parecem uma boa ideia ao comprá-los no mercado.
Acontece o mesmo com as frutas; se invento de economizar comprando do kiwi verde ao invés do amarelo, que é o que eu realmente gosto de consumir, vou acabar colocando meia bandeja fora, e o barato saiu muito caro.
E é sempre muito complicado se desfazer de algo que você adquiriu sem refletir a respeito: eu sinto aquela responsabilidade pesando, de que deveria dar um destino digno aos itens que, de verdade, não me interessam.
Usar o xampu ruim até acabar, pois afinal, dinheiro não dá em árvore - passar meses com o cabelo num fuá realmente me parece uma opção muito tranquila, muito viável.
Tudo em nome do não-desperdício.
Ou ainda deixar o xampu ruim parado, ali ao lado do bom, dentro do box - parece errado me desfazer dele, então entubo e passo meses, quando não anos, encarando o produto que virtuosamente, não joguei fora - só deixei vencer honrosamente dentro de casa.
Dia desses, eu vi no TikTok um casal fazendo piada com essas coisas: eles não jogavam fora a metade do limão partido ao meio que não usaram, eles guardavam esse limão na geladeira, assim poderiam jogar ele fora só quando já estivesse seco e amargo.
Desde que ri com isso, não pude mais esquecer: se o destino da metade do limão sempre foi o lixo, por que esperar e onerar a geladeira por 3 dias com esse projeto?
Eu imagino que, para você, tudo isso seja um absurdo - é muito absurdo pensar em jogar as coisas fora. E eu não estou incentivando você a jogar fora as coisas boas, próprias para serem doadas ou aproveitadas.
Eu só estou falando que existe muito lixo ocupando o lugar de coisas que amamos nas prateleiras mais nobres da nossa casa, na nossa geladeira, nos nossos armários.
E a única diferença entre elas e aquilo que se amontoa nos aterros, é a localização mesmo.
Empilhar, dobrar e fechar numa gaveta itens que não gostamos, não queremos nem pretendemos usar, é só mais um jeito de acumular lixo. E se você for um pouquinho só preocupada(o) com o destino das coisas, é mais um jeito de te causar ansiedade.
Eu senti um alívio monumental ao eliminar dezenas de itens sem qualquer serventia a nenhum ser humano, que habitaram minha casa por meses e anos. E pretendo continuar a fazer.
É evidente que precisamos ponderar antes de trazer as coisas, de fazer escolhas impulsivas, e que precisamos dar um bom destino ao nosso lixo. Mas eu juro a vocês, que eu tinha um armário forrado de vidros de conserva, cuja embalagem me dava dó e eu pretendia reaproveitar (não sei como).
O dia que joguei tudo num container na praça do meu bairro, sem ficar com aquela “aba mental” de dar o vidro para Fulano que quem sabe aproveite, ou colocar aveia no vidro criando artificialmente um uso para ele, a minha vida ficou leve.
Já me aconteceu de, visitando uma moça que fazia faxina para minha mãe, encontrar a casa dela completamente abarrotada de itens que um dia já haviam pertencido à nossa casa.
A moça, indignada com o desperdício de coisas boas/bonitas, levava tudo. E o resultado era que a casa dela parecia um cenário montado, um cemitério de objetos já sem beleza ou utilidade, só pelo apego de não jogar as coisas fora.
E eu que antes dava minhas coisas com a maior alegria para ela, pensando que tudo estava em uso, não podia mais esquecer daquela cena que podia perfeitamente figurar num programa desses de TV.
As coisas que a gente não quer precisam partir. Dar um bom destino é importante, mas nesse momento de minha vida, tenho pensado que o mais importante é que elas saiam daqui.
Sugiro que você olhe nas suas prateleiras o que precisa sair daí também.
Comecei este ano um projeto similar, chamei ele carinhosamente de “Destralha”. Comecei com armário de roupas, despensa, banheiro, passando por seguindo e seguidores do Instagram. A ideia é me livrar daquilo que não encaixa mais na vida de hoje. Estou longe de terminar, e alguns preciso passar mais de uma vez, mas a sensação de leveza é indescritível!
Ótimo chamado a todos nós! Infelizmente me identifiquei com o papo de meio limão… a intenção é sempre boa (“se eu não usar na comida, ainda dá pra espremer na água!”), mas na maioria das vezes só me lembro dele quando o encontro já ressecado na porta da geladeira alguns dias depois =(