Espero que você esteja bem e fazendo aquilo que mais gosta no dia de hoje.
Meus planos eram básicos: não providenciei nenhum adereço ou item de maquiagem novos, nem cheguei a acionar os amigos com quem compartilhava essa época do ano.
Pretendia ir num único bloco, com certeza, todo o resto era incógnito. Aí fui convidada para passar o feriado aqui no Guarujá, no litoral norte de São Paulo, e o resto você já sabe.
Aqui estamos bem, sem nenhuma dificuldade, porém em regiões muito próximas, as pessoas estão literalmente debaixo d’água. Ajude, se puder (clique aqui para ver uma chave pix).
Com a chuva, o Carnaval se tornou só um feriado de chuva para mim, enfronhada nos livros e vendo acontecimentos da sala de casa.
Minha maravilhosa mestra de meditação, a Laura Packer, fundadora da Chacarananda Ashram, está em Rishikesh e foi através dela que eu soube de um festival indiano chamado Shivaratri, que ocorreu duas noites atrás, 18/02.
Shiva é uma divindade hindu, muito conhecida no mundo todo. Lorde Shiva é um Deus a quem se atribui a força de destruição, o que pode ser muito positivo, a depender do que você tem na sua frente.
Assim como o nosso Carnaval, a noite de Lorde Shiva (Shivaratri) varia a cada ano, de acordo com as fases da lua (é preciso ser noite de lua minguante, exatamente uma antes da lua nova).
Pela posição do subcontinente indiano nessa data, se diz que há a maior escuridão na terra e aumento da energia em nós, seres humanos. A metáfora é que rompemos a escuridão da ignorância e podemos expandir a nossa consciência.
Daí que milhares de pessoas passam essa noite acordados, entoando o mantra Om Namah Shivaya durante horas a fio, sem um único gole de álcool, e grande parte em jejum.
Ao amanhecer, oferendas de comidas começam a ser distribuídas aos presentes, e são comidas que foram abençoadas pelos rituais (os quais não me atreverei a descrever, não conheço o suficiente).
E como duas ocasiões tão distintas podem coexistir no mesmo texto, quiçá no mesmo mundo?
Em algum ponto em comum do nosso mundo, nós nos encontramos. Você pode ter vindo de uma noite espiritual, em oração e jejum, e trombar com um folião ainda sob efeito das bebidas e músicas que consumiu.
Você pode ter perdido tudo, inclusive o chão sob os seus pés para a força da água, e passar por alguém que recebeu a notícia de que seu tumor não é mais detectável numa biópsia. O pior e o melhor dia da vida de alguém está acontecendo exatamente agora.
Na mesma noite em que você conhece o amor da sua vida, alguém recebeu a notícia de que o seu amor se apaixonou por outra pessoa e está indo embora.
O mesmo sol que alivia meus sintomas depressivos castiga plantas e animais, endurece a terra e repercute em seres tão distantes de mim que os ignoro completamente.
E que caiba a nós ter a bondade de reconhecer que não sabemos nada sobre o que acontece aqui do nosso lado, muito menos longe daqui - o sagrado, o profano, o luminoso e o obscuro estão todos juntos.
O Deus da Destruição permite que o novo ressurja, e tem o papel fundamental de remover obstáculos que pareciam intransponíveis. (Só use o Om Namah Shivaya quando sentir que tem a força necessária para remover os entulhos).