Espero te encontrar bem. Já tem uns dias que me peguei sem coragem de escrever aqui, pensando se não sobrecarregava você com mais textos.
Já tem texto demais no mundo, pensei. Todo mundo já falou disso, pensei também.
Na bolha ayurveda e saúde, isso significa: todo mundo está dando dicas e vendendo detox de primavera. Ano passado, falei disso mais em detalhe, e você pode ler clicando aqui.
Esse ano, eu pensei algo além dos temas batidos: pensei que não sei como proceder no relacionamento com o ambiente externo, falar em estações do ano, se na prática nem inverno teve aqui no Brasil.
Individualmente, tenho pavor de frio e celebro os dias quentes, mas não posso deixar de lamentar o que isso possivelmente significa, em termos de futuro (nosso e da natureza).
Ao mesmo tempo, fica difícil você tentar organizar sua vida, suas atividades, contando com um certo cenário, e vendo ele simplesmente não acontecer. No individual (seu corpo, sua casa) e no coletivo (de roupas, abrigo e alimentos) que são influenciados pelo clima.
Daí lembrei desse texto (clique aqui para ler em inglês), que conta sobre as 72 estações do Japão. São pequenas fases de 5 dias, por exemplo, que monitoravam (pensando na agricultura) coisas como: os sapos começam a cantar, o orvalho brilha branco na grama…
Gracinha, né?
Pensar em agricultores anotando num calendário o movimento dos animais, das plantas e da luz há centenas de anos atrás me dá uma sensação meio nostálgica. Sinto falta de algo que nem sei nomear.
Também serve de alerta para cuidar antes de embarcar em qualquer trend. De ritucharya (rotina sazonal, em sânscrito) a resoluções de Ano Novo, mercúrio retrógrado e o fenômeno que estiver na vez.
Pode ser bom lembrar que a cada 5 dias, em média, algo deixa de existir ou passa a acontecer na natureza.
E assim como a gente isola uma função em bioquímica pra estudar e entender ela, enquanto tem uma microestação iniciando, outras estão no auge, outras em declínio.
Nós até podemos isolar algum fenômeno para estudá-lo melhor, mas ele acontece concomitante a centenas, milhares de outros - tão importantes quanto.
Tudo ao mesmo tempo e agora. Se você não embarcou na microestação de ontem, tudo bem - hoje (ou daqui 5 dias)tem outra. Hoje pode ser o primeiro dia do seu novo ano pessoal, ou do seu relacionamento, ou de qualquer decisão que você tomou.
Não tem cabimento fazer spring cleaning (como os estadunidenses amam fazer) se sua casa já está limpa e adequada ao clima atual. Nem “projeto verão”, ou “detox de primavera” só pelo calendário.
Mas sempre cabe aquilo que nos faz revigorar.
Eu tenho um ritual específico de preparação para a primavera: releio O Jardim Secreto, de Frances Hodgson Burnett.
Se você só viu o filme, por favor, dê uma chance a esse livro. Se você tem filhos, sobrinhos, dê a eles.
A linda história de uma menininha que começa a cultivar um jardim secreto no meio da charneca inglesa, depois de perder tudo (e todos) que já teve na vida, é uma metáfora sobre saúde mental, propósito, objetivos, resiliência.
Todos os personagens iniciam o livro alquebrados, em pleno inverno inglês. E é no auge do frio, debaixo de neve, que a partir do jardim e das mudanças na natureza, que as suas vidas vão ganhando novos contornos.
Em menos de 3 meses, com a chegada da primavera, a transformação é abissal e inspiradora. A leitura, leve, agradável e cheia de camadas, me renova as esperanças todas as primaveras.
Me despeço com um pequeníssimo diálogo, sobre as plantas do jardim em pleno inverno:
“- Como sabemos se estão mortas ou vivas?
- Espere até que chegue a primavera. Espere até que o sol brilhe depois da chuva, e a chuva caia depois do sol, então, descobrirá.”
Obrigada por ler! Por favor, se gostou, me ajude a divulgar o meu trabalho, indicando este texto para algum(a) amigo(a).